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Historial

Foto 1 - Vista Parcial de Cambres

Corredoura e Pedreira

Foto 2 - Sr. DÁflição

Foto 3 - Estrada Romana

Foto 4 - Ponte Romana (Seixo)

     Cambres situa-se a sul do rio Douro, com o qual confina, e nas fraldas da Serra de Montemuro, rodeada pelas freguesias de Samodães, Ferreiros, Almacave e Sande.

     

     Extensa como quase hoje, Cambres era-o já no século XIII desde os tempos remotos o que bem se verifica pelas Actas das Inquirições de 1258, que dentro da rubrica «De Parrochia Sancti Martini de Cambres» ocupam várias folhas dos livros 1.º e 3.º das Inquirições de D. Afonso III.

    

     Quer isto dizer de certo modo, que Cambres já então era uma das mais vastas e populosas zonas do país.

    

     As tradições de Cambres, constituem um corpo de factos curiosos muito particulares.

    

     Alguns desses factos podemos de antemão enunciar como o senhorio da Igreja de S. Martinho em Maria Gonçalves, «Prelada» da igreja, que em nome do povo autorizou em 1197 (século XII), o Bispo de Lamego a doar ao Convento de S. João de Tarouca, em troca de um cálice de prata, um livro e um casal situado em Quintilião (hoje Quintião); as vastas aquisições feitas em muitas das «Vilas» rústicas da paróquia pelos Mosteiros de Salzedas, S. João de Tarouca, Cabido da Sé de Lamego e pela Sé Bracarense, as honras de Egas Moniz em várias dessas «Vilas», bem como as de sua mulher D. Teresa Afonso e de seu filho Soeiro Viegas «Príncipe» lamecense como o seu pai a origem dos vários topónimos principalmente os alusivos à arqueologia e pré-história e os de filiação Germânica (Suevos e Visigodos) a razão de alguns deles como Maduros, a mudança de Rio Mau em Rio Bom, os fenómenos de transformação de Maciata (U nasal) em Mesquinhata, etc., etc..

    

     Os primeiros registos, referentes a Cambres datam de 1179 e referem-se às décimas que pertenceram à Igreja de S. Martinho de Cambres. Documentos esses encontrados no Livro de Doações de Salzedas, mas isto não significa que outros documentos anteriores possam ter existido e que se perderam, uma vez que todo o vasto arquivo de Salzedas foi destruído. Alguns historiadores colocam mesmo a hipótese de aqui (Cambres) ter existido um mosteiro pré-nacional o que seria corroborado pelo nome do lugar, que ainda hoje se conserva Mosteiro e que fica perto do lugar da Bogalheira, na estrada que liga Lamego à Régua, na direcção a Rio Bom.

    

     Talvez este facto se deva de preferência aos monges Cistercienses que trazidos por D. Afonso Henriques haveriam de ocupar os lugares de S. João de Tarouca e Salzedas. Alguns destes mestres de povoamento e agricultura haveriam de instalar-se por este lugar.

Deste facto restam ainda algumas celas na Quinta de Monsul. A Quinta de Tourais e o lugar da Bogalheira, segundo Almeida Fernandes muito terão a dever à presença benfazeja desses monges.

    

     Mas a prova da sua antiguidade está na Igreja Matriz, uma vez que foi S. Martinho de Dume, o fundador da Diocese de Lamego e remonta ao século VI, tendo sido dedicada a S. Martinho Tours, nessa altura, uma pequena capela que mais tarde em 1767 (século XVIII) a mando de D. José foi restaurada e ampliada. É decorada no estilo Barroco no fim da sua fase.

     

     Sendo assim, como comunidade Cristã, Cambres é bastante antiga.

     

     No tempo da ocupação Suevica deu-se a Cristianização desta terra. O rei Teodomiro, chefe dos Suevos, ao obter a cura de seu filho Teodomilo, por intermédio de S. Martino de Dume, comprometeu-se a converter ao Cristianismo e com ele o seu povo.

    

     Como S. Martinho de Dume era muito devoto de S. Martinho de Tours, este povo, à medida que fundava comunidades Cristãs, dava-lhes como padroeiro S. Martinho de Tours. Daí o padroeiro de Cambres ser S. Martinho de Tours.

    

     Mas apesar de aquele Santo, ser o padroeiro de Cambres é no Nosso Senhor D´Áflição que o povo deposita a sua fé (foto 2).

    

     Duas versões confirmam tão grande devoção:

  

   1.ª versão – Há quem diga que em tempos houve uma grande cheia, à qual se seguiu uma grande crise de fome e as pessoas oraram ao Senhor D’Áflição que os ajudasse e como as suas orações foram ouvidas  atendidas as pessoas passaram a celebrar todos os anos no último domingo do mês de Julho a festa em honra do mencionado Santo.

    

     2.ª versão – Sendo Cambres constituída na sua maioria por campos e quintas, em determinada altura essas vinhas foram devastadas por uma praga chamada «Filoxera» deixando o povo a morrer à fome, e foi então em desespero que o povo se junto e organizou uma procissão de penitência em honra do Senhor D’Áflição, procissão essa realizada à noite com o povo todo descalço pedindo ajuda ao Santo. Como as pragas cessaram, o povo em agradecimento passou a venerar o Santo até aos nossos dias. Esta procissão ainda hoje se realiza e reveste-se de algum simbolismo.

    

     No princípio do século VIII, os Árabes tomaram estas terras e muitos habitantes tiveram de fugir para as Astúrias.

 

     A sua passagem, por estes lados, é-nos assinalada pelos vestígios existentes no nome da Quinta de Paços de Moçul e a Quinta do Mourão, o grande Mouro.

 

     No século IX, começou a reconquista iniciada pelos Lusitanos e protagonizada por Pelágio dando origem à Constituição dos Reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão.

 

     Com a vinda do Conde D. Henrique e como recompensa dos serviços prestados, foi oferecido o Condado Portucalense, donde nasceu Portugal. D. Afonso Henriques, 1.º Rei de Portugal doou uma grande parte desta região (Cambres) a D. Teresa Afonso, mulher de Egas Moniz, que habitavam em Britiande.

 

     Mais tarde D. Teresa doou estas terras ao Convento de Salzedas, entidade religiosa pertence do Clero, que era detentora da maior parte dos terrenos aráveis da região, hoje denominada Douro Sul.

 

     Com o passar dos tempo tornou-se incomportável o cultivo por parte dos frades do Mosteiro de Salzedas, de todos os terrenos que estavam à sua guarda. Houve necessidade de “aforar” grande parte destes terrenos exigindo contrapartidas em géneses (alimentos) para o sustento do próprio Mosteiro. No entanto nos finais do reinado de D. Pedro IV, mais concretamente em finais de Maio de 1834, foram extinto no Reino de Portugal, todas as casas religiosas de quaisquer Ordens regulares e os seus bens foram incorporados nos próprios da Fazenda Nacional. Assim o governo de então procedeu ao inventário de todos os bens, dos quais constavam algumas quintas de Cambres, nomeadamente a Quinta de Moçul em Rio Bom. De seguida, procedeu-se à arrematação de cada um dos bens ao arrematante com a melhor oferta. Deste modo deu-se início à constituição de pequenos grupos de habitantes, donos das quintas  arrematadas e suas famílias, que com o decorrer dos tempos se lhe juntaram outros que vindo à procura de trabalho, por aqui ficaram e casaram dando origem a um processo cíclico e evolutivo dos habitantes, que neste caso culminou com esta maravilhosa freguesia.

 

     Quanto à origem do nome acabou-se por constatar três versões.

 

     Alguém disse que o nome derivou dos “Suevos” que ocuparam esta região e que dividiram em duas famílias importantes: os “Cambrisos” e os “Torónios”. Os Cambrisos mais a sul (Corredoura) e os Torónios mais a norte (margem do rio Douro). Daqui derivam dois topónimos: Cambres deriva de Cambriso e Tourais deriva de Torónios.

 

      A segunda versão diz que o nome de Cambres derivou da palavra Câmara, desconhecendo-se o porquê de tal nome, aponta-se talvez para a presença dos Romanos, que nos é testemunhada ainda hoje por uma via Romana que atravessa este povo (foto 3) e uma ponte conhecida pela “Ponte do Seixo” (foto 4) que por Sande levava a Valdigem e daí a S. Domingo onde estão patentes os vestígios da antiquíssima cidade de Lacunimurgi (Lamego).

 

     A presença dos Romanos é ainda notada pela existência de um Castro onde se situa hoje, o cemitério ou mesmo a Igreja. Do livro do Dr. Manuel Gonçalves da Costa: “História de Lamego” diz que “não seria fácil, entroncar o topónimo Cambres em qualquer tribo da antiguidade sem o auxílio do Parochiale Suevido que regista a paróquia Cantabriano, romanização dum gentílico da família Cantabri e que não podia ser outro senão Cambres”.

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